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Sistema financeiro quer mudar o ‘Fundão’

Imprensa


24/02/1991

Sistema financeiro quer mudar o ‘Fundão’

O sistema bancário pretende reformular completamente o Fundo de Aplicações Financeiras (FAF), o Fundão, previsto para entrar em vigor no dia 1º de março. Na reunião de amanhã os representantes dos bancos vão propor ao governo a criação de dois Fundões. O primeiro dirigido especialmente às pessoas físicas e outro para administrar as carteiras das pessoas jurídicas. Essas alterações, segundo o diretor do Citibank, Fernando Portela, terão que ser adotadas para evitar maiores tumultos no mercado. 

Caso o governo não concorde com a sugestão, os bancos já dispõem de uma contraproposta. Adiar em quatro meses a entrada em vigor das medidas, período no qual seriam colocados em operação dois Fundões, a título de experiência, para que as duas partes – bancos e governo – avaliassem e decidissem pela melhor alternativa. Seria uma fase transitória para que as modificações fossem digeridas não só pelo governo e sistema bancário mas também pela população. 

O diretor do Citibank justifica a insistência do setor de separar as aplicações das pessoas físicas e jurídicas lembrando que essas modalidades não podem ser agrupadas num mesmo fundo. “É como tentar misturar óleo com água”. As carteiras de pessoas jurídicas são caracterizadas por poucas unidades com grandes volumes de recursos. No caso das pessoas físicas ocorre o oposto: são muitas unidades com pequeno volume de recursos. A administração dessas carteiras é diferenciada desde o momento da captação até na hora de decidir pela rentabilidade de cada uma delas. Daí a impossibilidade de abrigar as duas formas de investimento em uma mesma operação. 

Os banqueiros entendem que a administração do Fundão como deseja o governo resultará em sérios prejuízos para o sistema. O principal problema será a elevação do custo operacional que ficará sob inteira responsabilidade das instituições. Se a proposta governamental for mantida os bancos assumirão o risco sobre todas as operações. Esse risco, segundo o diretor do Citi, aumenta o custo das operações que terá que ser repassado à clientela. O problema é como fazer esse repasse.

Gigantes – Na sua avaliação de Portela, a instituição do Fundão criará uma realidade nova onde somente os grandes bancos poderão atuar. “Os pequenos terão apenas duas alternativas: ou saem do mercado ou fazem acordo com os grandes”. Esse acordo terá que ser feito através de uma sistemática onde os pequenos atuarão apenas na captação combinada com a compra de cotas dos bancos. O diretor do Citi garante que não há outra alternativa. “É uma brincadeira para gente grande”, ironiza. 

A maior dificuldade disso tudo está, justamente, em explicar à clientela como as novas medidas vão modificar suas formas de investimento. “Teremos que reeducar os clientes, ensinando a diferença entre fluxo de caixa e investimento”. Quem optar por aplicações de curto prazo irá perder rentabilidade em comparação com os ativos que ainda restam no mercado a exemplo da caderneta de poupança. “Teremos que orientar o cliente para a nova rentabilidade. Quanto maior o prazo melhor será a rentabilidade”. Para atingir esse objetivo, o Citibank vai deflagrar uma grande campanha publicitária, logo que estiverem definidas as novas regras. 

O investimento mais atrativo, segundo os bancos, será a distribuição das aplicação entre os CDDBs e os fundos de renda fixa de longo prazo. Os representantes do sistema bancário acreditam também que as novas medidas provoquem uma elevação nos juros das operações de curtíssimo prazo (hot money) e conseqüente queda nas aplicações de longo prazo de maturação. 

Opções -   O diretor da Área de Produtos e Mercado de capitais do Banorte, Ricardo Di Cavalcanti Mello, achou “ótima” a manutenção dos fundos de renda fixa, por serem mais uma opção de aplicação para os clientes, além do CDB e da poupança. 

Na sua opinião, o Fundão único para pessoas físicas e jurídicas, da forma como foi elaborado pelo Banco Central, não é interessante para as empresas. Estas têm que apresentar ganhos ou perdas nas declarações de Imposto de Renda, enquanto as pessoas físicas fazem com base em salários e rendimentos mensais. “Isso pode estimular as pessoas jurídicas a buscarem outros ganhos, através, por exemplo, da formação de estoque de matérias-primas ou de produtos acabados”. 

Ele acredita que o Fundão provocará perdas de rentabilidade para o sistema bancário. “Os bancos vão ganhar menos, mas acabarão se adaptando, como das outras vezes”. E não acha que o objetivo seja quebrar os bancos. “O que o governo deseja é não deixar que as aplicações de curto prazo sacrifiquem os investimentos de médio e longo prazo nem sacrifiquem a possibilidade dos bancos de financiarem a produção”. 

O diretor do banco múltiplo Gulfinvest, José Carlos Oliveira, também admite que os bancos perderão com as novas medidas, mas não acredita que haverá riscos de quebradeira no setor. “O mercado financeiro é muito ágil e criativo e vai se adaptar às novas regras”.

 

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